Um dia laranja
 



Contos

Um dia laranja

Vladimir Carvalho de Oliveira


O esporte alimenta todas as partes do ser humano. Porém, algumas vezes não basta para satisfazer os nossos desejos. A proximidade da copa no mundo transportou-me para um dia especial de Porto Alegre. Abro uma janela da lembrança para viajar nos movimentos de uma cor que dançava em nossas ruas naquele dia vibrante. Pois bem, confesso que eu sempre fui fã desta cor! Ela é parte da engrenagem daquela fruta mecânica. Assim, a visita de um carrossel completaria uma pintura de uma moldura que ilumina o nosso orgulho ao adormecer no final da tarde.

Os torcedores foram chegando e se reunindo no paralelo 30. Respirei o ar daquela Fan Fest no Anfiteatro Pôr do Sol. Dancei no `Orange Square` nas pedras do Largo Glênio Peres. Mas, não decolei no voo pelo caminho do gol, que pousou no Beira Rio naquele 18/06/2014.

Após o meu imenso abastecimento de combustível naqueles eventos, aquela irmã gêmea do pôr do sol do Guaíba se moveu, parecia um mar de laranjas brotando do chão e ganhando vida num dia de Copa do Mundo. E eu ali ao lado, louco para beber daquele suco que energizava a minha cidade. Assistia a tudo pelos olhos da emoção.

E por esses dias revi na janela da comunicação o Duda Garbi e Luciano Potter captando a cor e a voz daquelas laranjas do velho continente. Até agora escuto aquela alegria excitante como se fosse a vitamina C aumentando a minha imunidade do viver. Naquele dia assisti à derrota da Austrália de 2 a 3 para a Holanda num bar próximo ao pomar que desfilava seu talento no Beira-Rio. A propósito, hoje ela quer ser chamada pelo nome oficial: Países Baixos. Desculpa! Mas, eu não consigo.

Até agora o meu coração não entende ou não aceita, por que uma seleção com um futebol que tem muito do DNA do Brasil não ganhou uma Copa do Mundo? Negros e brancos desfilam sua técnica refinada, assim como os brasileiros, porém nós temos cinco copas guardadas em nossos corações, e eles nenhuma. Pois é, não basta fome para se alimentar. Será que os deuses do futebol jogam no campo da competição a favor do amarelo e contra a laranja? Entretanto, o relevante é o fato que a laranja, assim como o amarelo se alimentam da alegria e da confraternização na mesa do futebol.

Ainda bem que tudo foi registrado naquele dia de sol, pois os jogos não são vividos apenas em 90 minutos num campo de futebol. Acima de tudo, tem o antes, o durante, e o depois que nutri a nossa alma a partir da diversificação das cores e valores que constrói o mundo. Na teoria, uma Copa do Mundo deveria plantar no solo urbano o legado de benefícios e progresso. No entanto, o desperdício e os interesses privados contaminam os projetos e as boas intenções que são plantadas a partir do campo de futebol.

Nesta Copa jogada no Brasil, a orla de Porto Alegre assistiu ao desfile de um pôr do sol laranja inesquecível. Curiosamente, ressalto que de forma parcial a laranja recebeu um afago dos deuses do futebol. Elas ganharam uma disputa num tapete chamado Mané Garrincha. Um palco que recebeu o nome da verdadeira alegria nas pernas tortas de um craque que vive em nossas memórias. A vitória do terceiro lugar delas foi justo diante dos canarinhos no dia 12/07/2014 na capital federal.

Até hoje quando passeio de mãos dadas com a lembrança daquele dia, alimento a esperança de encontrar no pôr do sol do Guaíba a mesma energia de um laranja que alimentou e iluminou as ruas de Porto Alegre numa Copa do Mundo.

VLADIMIR CARVALHO DE OLIVEIRA é primogênito de uma família de seis filhos. Aficionado por práticas esportivas, cinema, teatro, e a escrever poesia, resume a fotografia do seu espírito competitivo e lírico. Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul no curso de Bacharel em Administração no segundo semestre de 2019. Administrador e aposentado; Vladi Oliver após três décadas compartilhando sua prosa poética com familiares e amigos decidiu atender aos pedidos de publicação dos seus incentivadores. Assim, surge o curso da Metamorfose em plena pandemia na sua vida. Conhecimento que libertou o início de sua escrita literária represada. O primeiro passo é a criação da crônica "Um Dia Laranja" que uniu dois amores: a escrita e o esporte.Participa do Curso Online de Formação de Escritores.

 

Cadastre-se para receber dicas de escrita, aviso de concursos, artigos, etc publicados no portal EscritaCriativa.com.br